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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fragilidades que movem e encorajam o sexo “forte”

Por: Ana Paula Souto

Não é mais o sonho de toda mulher, mas um dia foi e ainda existem muitas, ávidas por realizar: a maternidade. De fato, são tantas as razões para não tê-los que a gente quase se convence de que foi mesmo uma loucura ter ido dormir sem tomar o “bendito” anticoncepcional. Mas é por muito pouco tempo, fração de segundo justificada pela lindeza de dois menininhos que hoje me tomam mais que o tempo, a própria vida. Não tem preço e nem medida. É o maior amor que já pode ser experimentado entre duas (três, no meu caso) pessoas, sem dúvidas. O planejamento foi aquele que já é conhecido: “bem, já que estou, vamos esperar que no fim tudo dê certo.” E sabe que dá mesmo?! Analisando com mais calma ou menos aflição (pós dois testes positivos em anos consecutivos), já não me queixo não ter projetado tanto a idéia de filhos por razões muito simples: nunca se está preparado psicologicamente para tê-los, não haverá “brecha” na vida profissional para eles (sempre se quer mais e mais degraus) e, sobretudo nunca se tem a grana suficiente para comprar tudo o que julgamos que mereçam ou precisem.

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Esse sistema maldito faz as coisas “direitinho”. Impõe que você trabalhe muito e seja bastante promovido para que não lhes falte nada – assim lá se vai todo o tempo do seu dia; produz nos rebentos desejos compráveis e insaciáveis e o gran finale: a junção dos anteriores - te faz sentir uma “porcaria” por, além de não ter tempo para seus filhos, não conseguir dar a eles o que merecem. Não há psique que resista a tal combinação, acreditem.

Às margens do encerramento de minha licença maternidade¹ os acontecimentos na sociedade e suas implicações no fator “ser mãe” me levam às reflexões e associações mais tenebrosas. Curiosamente, não desanimam. Na realidade, dão conta de justificar a força da mulher brasileira: mãe, trabalhadora o quanto suporta, presente da maneira que consegue, educadora como e quando é possível, provedora do lar. Movidas por um imenso amor, quantas são àquelas que se obrigam a abandonar em sofrimento seus filhos nas piores creches ou mesmo nas mãos da profissional que conseguem pagar, bem barato. Não é uma contradição! É por amor sim, de não permitir que seus filhos morram de fome se não trabalham e brigar com traficante para que as “benesses” do crime não os levem na falta de oportunidades.

Hoje percebo que o afeto tem diferentes roupagens e que uma avaliação precipitada sobre os rumos/razões da juventude pobre, pode gerar a reprodução de um modelo asqueroso da classificação e justificativa. A culpa fatalmente recairá sobre certo alguém² que quase nunca estará presente há tempo e há hora, como se diz. Não se pode se ater aos fatos sem olhar para dentro deles. E isso é o que trago em mim, nesses quase 20 dias que me restam para estar com meus “príncipes” exclusivamente, antes de entregá-los numa creche a graduadas profissionais em educação e que terá muito mais do que a maioria da classe trabalhadora poderia pagar, já que a tranqüilidade é um “bem” e está a venda, custando caro no Rio de Janeiro. E por me dar conta de que Educação é presença, principalmente, acho que meu grande embate vai sendo desvelado, bem como a manutenção de uma realidade que não quero para os meus filhos. Também acredito que eles merecem muito mais. E haverá empenho quanto puder para fazê-los homens de luta, de reflexão e resistência, pulso firme e muito amor. Com o tempo que tiver, haverá todo o empenho!

¹ na lei, a licença para ser mãe é de 4 meses, 120 “voadores” dias e, certamente nunca mais haverá oportunidade de tempo como essa entre filho e mãe.

² a pessoa que cumpre o papel de educar, que não necessariamente a progenitora.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o tezto, Ana...sensivel e forte.

Theófilo Rodrigues disse...

Sensibilidade a flor da pele. Por enquanto, é com vocês e com a creche. Mas daqui a pouco a escola deles se chamará UJS! Com os pais e a UJS, com certeza eles serão “homens de luta, de reflexão e resistência, pulso firme e muito amor”.

... disse...

Muito bom o texto, Ana....forte e sensível!!